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4 de fevereiro de 2011

Janela de Ilusão

O texto a seguir foi escrito a alguns anos atrás…

   A Janela do seu quarto tem a cor vinho. Somente uma cor. Vinho das uvas da Borgonha, ou quem sabe da Alsacia. Vinho tinto! Vinho fresco! A Janela do seu quarto é quadrada ou é retangular? “Ele não sabe dizer.” Depende. Depende de que? De quem a vê, de quem a observa. “Imagina.” A Janela do seu quarto está fechada. Mas às vezes está aberta, muitas vezes escancarada. O lado de fora está sujo, com poeira e até teia de aranha. O lado de dentro está limpo como as folhas em branco em cima da sua mesa. E de dentro para fora ele enxerga além, coisas que só ele vê. Existe vida do outro lado da janela do seu quarto? Por um instante ele para, e reflete. Pois do lado de dentro ele não sabe.

   Será que ela ainda vem essa noite? “Ele pensa.” Quem? Ela, a Esperança. Ela chega de mansinho, sem fazer muito barulho e relembra coisas que só ele gosta de fazer, como  por exemplo: escrever, desenhar e tocar violão. Por minutos em pause fica sem ação, e depois desperta. Ele acorda, senta, levanta e tenta fazer tudo o que a esperança lhe disse. Mas isso não dura muito tempo, logo ele esquece, desiste e vai de frente ao espelho.

   Olho no olho para se enxergar, e ver seus erros, seus defeitos, suas imperfeições, seus fios de cabelos brancos e sua Culpa. Parece que nem tudo é perfeito e no espelho ele vê o reflexo da sua Janela de interrogações. Nas suas faces está a marca de um tempo onde até o momento nada se passou. Foi simplesmente tempo perdido. E a única testemunha disso tudo é a janela do seu quarto. Que por várias e longas noites o observa e tenta entende-lo.  Será que ela é capaz de tal façanha? Ou será que ele deve entendê-la?

   Muitas vezes ele já pensou em pintá-la de verde musgo ou azul marinho. Ele gosta de vermelho sangue. No momento não convém fazer nada. Mira-la será o máximo que ele pode fazer até agora.

   Às vezes ele canta bem alto suas dores e sofrimentos para ver se ela o compreende. E quando ele sai do quarto fecha-a para que nada de mal aconteça e quando retorna confere se ninguém a abriu. Muito desconfiado.

   A Janela do seu quarto é a sua porta para um outro mundo. Um mundo onde ele vive sua loucura. E quem um dia será capaz de pintá-la de verde limão ou de arrancá-la para abrir novos horizontes? Se ele não sabe, não sou eu quem vai lhe dizer. A janela do seu quarto continua na cor vinho. Aquele vinho das uvas da Borgonha e Alsacia da qual antes já foram ditas. Nada vai mudar, tudo continuará sendo o mesmo. Ela imóvel na parede do seu quarto e ele a viver sua ilusão.  

sentado_janela

@silvioheifer escrito em 15/10/2008

3 comentários:

  1. E que ilusão amigo...
    Você propôs uma reflexão e tanta, sobre aquela única testemunha de tudo o que sonhamos, fazemos e esperamos alcançar, todas as noites, em nossos quartos de dormir...
    Continue o projeto, esse é seu espaço...
    Um super abraço amigo, estarei sempre aqui...

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  2. Sempre bom conhecer novos blogs nessa pegada. Janelas, pra mim, carregam a imagem de possibilidades.

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  3. cara o que impede de voce colocar todos aqueles escritos seus do projeto frases mal-ditas???
    abra o baú dos tesouros escondidos....

    GRazie per tutto!!

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