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17 de fevereiro de 2011

Os Imortais







No telefone:

"Alô, é da clinica psiquiatrica do Doutor Rubem Fonseca?, aqui é Pedro Damião, eu quero marcar uma consulta para mim e para o meu amigo Getúlio, ele está precisando. As nove?, está bem."

***

No consultório: (Pedro deitado no divã, Getulio de pé andando de um lado para o outro e Doutor Rubem na poltrona ao lado.)

"Faz uma semana que não tomo meus remédios Doutor."
"E porque você parou de tomar?"
"Porque eles me pediram Doutor."
"Eles quem, Pedro?"
"Os imortais Doutor."
"Você, ouve suas vozes?"
"Não, eu os vejo Doutor."
"Quem são eles, Pedro?"
"Thomas Chatterton, Kurt Cobain e Getúlio Vargas"
"O que eles te dizem?"
"Eles pedem para eu me matar Doutor."
"Porque eles te pedem isso, Pedro?"
"Eles dizem, que se eu me matar, serei igual a eles Doutor, um imortal. O senhor não acredita em mim, não é Doutor? Eu sabia Getulio, é isso, eu vou me matar, eu vou me matar, eu vou me matar!"
"Você não tem medo Pedro?"
"Deles?"
"Não Pedro, da morte. Medo de morrer."
"Às vezes."
"Qual deles te motiva a fazer isso Pedro?"
"Ah Doutor Fonseca, o Kurt é o mais rebelde, outro dia ele me pediu que cortasse os punhos com a gilete dentro da banheira, imagina, manchar o tapete do banheiro, o senhor sabe não é, quando agente entra sempre transborda um pouco d'água, e sangue mancha."
"E Getúlio?"
"Getúlio fala só em morte, más também pede que eu peça ajuda, olha como ele anda de pijama de um lado para outro ai sempre dizendo... ajudaaa, ajudaaa, ajudaaa. Foi por isso que eu vim até aqui. O senhor pode o ajudar?"
"Sim, posso, más preciso saber de você primeiro. O que diz Chatterton?"
"Nada, apesar dele ter morrido envenenado por arsênico, ele fica repetindo em inglês: blood and death o tempo todo. Eles não vão embora Doutor Fonseca, Kurt disse que se eu morrer agora, eu não vou ter que morrer de novo, estou pensando Doutor. Eu não estou nada bem. Acho que eu vou me matar hoje."
"Você tem empregada domestica, Pedro?"
"Não, por que a pergunta Doutor?"
"Já pensou em quem irá limpar a sua casa depois que você se matar?"
"Não tinha pensado nisso Doutor."
"Então volte para sua casa, tome seus remédios e amanhã logo cedo, venha falar comigo, eu te darei o telefone de Dona Alice, minha empregada, tudo bem?"
"Está ouvindo, nada de suicídio por hoje Getúlio!" 
"Diga para eles que amanhã você se mata, hoje sem empregada não dá."
"Tudo bem Doutor Rubem. Ah doutor, e Getúlio?"
"Diga a ele que a hora da consulta já terminou, amanhã ele será o primeiro."
"Você ouviu Getúlio, não!
"Até amanhã Pedro, encoste a porta ao sair por favor."
"Até, Doutor."

***

No telefone: (Doutor Rubem fala com a secretária)

"Dona Alice, mande entrar o próximo paciente, más sem acompanhante."


16 de fevereiro de 2011

La Cucaracha

Una cucaracha me miró,
O soy yo que miré a ella?
Simplemente, el tiempo se detuvo,
Las puertas están cerradas y el viento sopla,
Cosas que no quiero decir.


Sin querer,
Lo inconsciente,
Empieza a hablar.


¿Lo que hice,
Para merecer,
Tal brutalidad?


Pisaram en mí,
No quieren saber,
Yo no soy el riesgo de la humanidad!


Yo estaba sentado,
Sigo sentado,
Pensando.
¿Porque matar las cucarachas?


¿cuál es el propósito?
¿asesinar por asesinar?

Escrito em 2008

Nos Jardins Onde O Nada Vai

A calma acabou, andou e passou;
   A pressa bem rápido, me arrastou e me levou,
   Pra bem distante daqui.

   Tão perto que nem sei, onde?
   O longe sabe que está,
   Nos jardins, onde ninguém vai,
   Se retrai, e me atrai, onde, quer que eu vá.

   A calma acabou de passar,
   Talvez fosse junto aos jardins.
   A pressa voltou de lá,
   E onde quer que eu vá,
   Nem sabe se estou lá.

   Mas lá encontro ninguém,
   Sentado, calado, olhando além.
   Que não sabe se vem, junto aos jardins.
   Onde nada vai e vem,
   Sem ninguém a incomodar.

   Eu sei que estou com:
   Calma, pressa, onde, ninguém quer estar,
   Longe nos jardins, além sorrindo a nos observar,
   Nos jardins onde o nada vai.

Inspirado pela musica "En los jardines donde nadie va" de Laura Pausini, 2008.



Noite



Noite soturna,
    Negra, cálida, ofegante.
    Chama-me a atenção.
    Madrugada que embala o sono que não cala,
    Solidão.
    Seu luar é meu delírio, serena cúmplice amante.
    Fico na penumbra da noite a observar,
    Rouba-me a juventude sem que eu dela possa me desfrutar.
    Sou aquele que te venera, te espera a cada dia ardente, após o por do sol,
    Caliente.
    Noite minha lua tua.
    Seu estado não se sente, pelo clima inebriante.
    Fielmente sou o seu amante
    Confidente minha és, compartilho os mais livres pensamento na madrugada.
    Hoje estou só,
    Vagando pelo nada.
    Vazio, poço profundo de idéias,
    Para, acalma, pois o tempo não para, e nem quer parar.
    Espero que encontre alguém, não sei ao menos quem, porém,
    Que possa amar.

Escrito a um tempo atrás quando existia uma grande melancolia dentro peito.   

13 de fevereiro de 2011

Lucia No Céu Com Seus Diamantes

Beatles - Lucy in the sky with diamonds


O texto abaixo é uma releitura fantasiosa de "Lucy in the sky with diamonds" no ano de 2008.

I

Essa musica anda por si só
Caminha solitária dentro da minha mente
E não sei parar de escutar
Som após som
Dom, dom, dom, dom 
Passos largos de um baixo solitário
Imagino um mundo melhor onde eu possa existir
E as vezes penso em ficar
Porém recordo-me que é pouco tempo 
São somente três minutos e alguns segundos
É tudo que tenho neste instante já
Marcados na batida das minhas mãos
Essa musica terá fim?
Ela não foi feita por mim
Mais um dia, quem sabe, eu chego lá
Agora simplesmente aperto repeat,
E espero-a recomeçar

II
Seus olhos brilham, será de vidro?
Usa óculos ou caleidoscópio?
Sabemos que é somente uma garota
Que desenha no chão de casa
Arvores de tangerinas e céus de marmeladas
Por ser muito solitária decidiu viajar
Foi remando foi de barco
Viu pedras a cavalo passar
E não parou por ai
Táxi de jornal aparece na margem do rio
Deu meia volta e subiu
E com a cabeça nas nuvens ela se foi 
III
Lucia agora está sentada na calçada
Usa sandálias de borracha 
Uma flor de papel na mão e
Colares de brilhantes, diamantes
Que refletem o céu como bolhas de sabão
Prestes a estourar
Lucia no céu com seus diamantes

Morinex

Mor, moral
In, imoral
Ex, excêntrico
MORINEX
Você consegue mudar o mundo?

12 de fevereiro de 2011

Eu, eu poetico

Eu não sou normal.
Há algo em mim que nao encontro nas outras pessoas.
Mas o que é ser normal ou anormal - quem sabe?
As vezes penso na morte, penso em matar.
Ao mesmo tempo que não quero mais.
Isso é normal?
Tenho medo, tenho dor, povor, seja lá o que for.
Tenho medo, de ser castigado.
Fico preso - amarrado.
Atado a algo só meu.
Não me conheço bem.
Sou carente, sou ausente,
Me falta algo, de repente,
Conhecer alguém?

O que posso fazer por você?
Vejo que nao é feliz.
Cansado - calado - porque você não me diz?
Fale comigo.
Sou seu amigo.
Seu verdadeiro eu.
Sempre te olho, te vejo, te enxergo.
Estou sempre aqui.
Ao lado seu.

Perdi,
Perdi para o medo,
Perdi para a razão,
Perdi o desejo,
De ser humano,
Perdão.

Mistério,
Pode ser a interrogação, que existe em você.
Sério - é dificil entender,
Sua forma de sentir de falar de sofrer.
Mistério - é você o tempo todo.

Sou aquilo que você acha ser.
Começo a sentir,
Sentimentos aqui dentro, transformando-me.
Pouco a pouco - começo entender.
Não sei ao certo no que,
Me transformarei.
Estou em metamorfoses,
Sei apenas que sou eu.
Eu me curvo,
Me deito,
E torno a sonhar.
Eu não vivo
Como gostaria de viver
Me falta algo sadio
Sou insano
Porem humano
Sobrevivo ao inves de dizer

Pressão,
Sente-se pressionado,
E não sabe o porque.
Talvez seja o seu mundo,
Seu jeito de andar, de falar
Impedindo-o de viver.
Pressão,
Não a nada o que fazer,
Pode até ser patológico,
Está dentro de você.
Pressão,
Não adiante pensar muito,
Ninguém vai parar e pedir perdão,
Vai em frente esqueça tudo,
Ouça seu coração.
Pressão,
Talvez não esteja aproveitando a vida,
Outra forma de viver,
Será que está feliz?
Ou com medo de morrer?

Ora eu poetico!?
hora eu, hora você
os dois as vezes se misturam
isso é patético
confunden-se
nas linhas desses versos
para que?
Tento entender...

5 de fevereiro de 2011

Tortura


Escrito em algum mês do ano de 2008

Calado, impresso sentimentos,
Nego-me a expressão da palavra.
Não aguento.
Isso aumenta, 
Tenho sede, sinto dor,
Tenho fome, quero mais.
Isso aumenta.
Vejo tudo, 
Ouço tudo, quero paz.

Marcas em forma mortal de dor, queimam, inflamam, causam o odor.
O cerne, o sangue, escorre do crânio semi aberto, 
Pulsa o coração partido, suturado pelo tempo.
Qual tempo? Esse tempo que se desfaz?
Esse tempo covarde, que invade o pensamento, Não!
Eu não quero mais.

Vermes e moscas sobre o corpo putrefado,
Presos a ataduras, sujas, nuas e cruas.
No meio do nada as criaturas aeróbias começam florescer.
Saem entre o ventre dilacerado, 
O sangue coagulado e a pele roxa.
Um ser mitológico, parece ser gótico, talvez uma moça.
Quem sabe uma ninfa tão bela e bonita não possa falar?
Esterno e costelas, pendendo aos lados;
Dedos quebrados, soltos no ar.

Tristeza,
Não posso falar, nem mesmo apontar, coisa igual,
Sou insano, profano, doente mental. 
Quem fez esse mal com tal divindade?
O corpo estendido, ataque cardíaco. 
Quem sabe explicar?

Fratura exposta ao frio aqui dentro.
A pele está fria, gelada, morrendo.
O corpo parece jogado, o tarso amarrado;
Tíbia, fíbula e o carpo pendendo;
Parecem croqui.
Nao Vejo arranhões, manchas, chupões;  
O sexo intacto;
Mexeram ali?

Não sei se está viva, 
Não sei se está morta,
Me sinto mal,
Nessa cena anamorfica.
      
Serei eu o culpado?
O que pode explicar?
Calado impresso sentimentos,
Que às vezes me possuem.
Não consigo evitar,
Nem quero.


@silvioheifer 

4 de fevereiro de 2011

Frases

Temos todos duas vidas. Uma a que sonhamos, outra a que vivemos. (@ Quase Dois Irmãos – Filme Brasileiro)

Janela de Ilusão

O texto a seguir foi escrito a alguns anos atrás…

   A Janela do seu quarto tem a cor vinho. Somente uma cor. Vinho das uvas da Borgonha, ou quem sabe da Alsacia. Vinho tinto! Vinho fresco! A Janela do seu quarto é quadrada ou é retangular? “Ele não sabe dizer.” Depende. Depende de que? De quem a vê, de quem a observa. “Imagina.” A Janela do seu quarto está fechada. Mas às vezes está aberta, muitas vezes escancarada. O lado de fora está sujo, com poeira e até teia de aranha. O lado de dentro está limpo como as folhas em branco em cima da sua mesa. E de dentro para fora ele enxerga além, coisas que só ele vê. Existe vida do outro lado da janela do seu quarto? Por um instante ele para, e reflete. Pois do lado de dentro ele não sabe.

   Será que ela ainda vem essa noite? “Ele pensa.” Quem? Ela, a Esperança. Ela chega de mansinho, sem fazer muito barulho e relembra coisas que só ele gosta de fazer, como  por exemplo: escrever, desenhar e tocar violão. Por minutos em pause fica sem ação, e depois desperta. Ele acorda, senta, levanta e tenta fazer tudo o que a esperança lhe disse. Mas isso não dura muito tempo, logo ele esquece, desiste e vai de frente ao espelho.

   Olho no olho para se enxergar, e ver seus erros, seus defeitos, suas imperfeições, seus fios de cabelos brancos e sua Culpa. Parece que nem tudo é perfeito e no espelho ele vê o reflexo da sua Janela de interrogações. Nas suas faces está a marca de um tempo onde até o momento nada se passou. Foi simplesmente tempo perdido. E a única testemunha disso tudo é a janela do seu quarto. Que por várias e longas noites o observa e tenta entende-lo.  Será que ela é capaz de tal façanha? Ou será que ele deve entendê-la?

   Muitas vezes ele já pensou em pintá-la de verde musgo ou azul marinho. Ele gosta de vermelho sangue. No momento não convém fazer nada. Mira-la será o máximo que ele pode fazer até agora.

   Às vezes ele canta bem alto suas dores e sofrimentos para ver se ela o compreende. E quando ele sai do quarto fecha-a para que nada de mal aconteça e quando retorna confere se ninguém a abriu. Muito desconfiado.

   A Janela do seu quarto é a sua porta para um outro mundo. Um mundo onde ele vive sua loucura. E quem um dia será capaz de pintá-la de verde limão ou de arrancá-la para abrir novos horizontes? Se ele não sabe, não sou eu quem vai lhe dizer. A janela do seu quarto continua na cor vinho. Aquele vinho das uvas da Borgonha e Alsacia da qual antes já foram ditas. Nada vai mudar, tudo continuará sendo o mesmo. Ela imóvel na parede do seu quarto e ele a viver sua ilusão.  

sentado_janela

@silvioheifer escrito em 15/10/2008