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18 de março de 2011

Paganini



Ano de 2008

Dizem que para alcançar a plenitude eterna um homem deve escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho. Será que isso é verdade? Não sei se me sinto pleno desta forma.
Escrever um livro, talvez sim. Não tenho certeza das coisas que disse nos meus poemas. Não sei se seria propriamente dito um livro ou talvez um rascunho aquilo que fiz em In-Sano.
Quanto à árvore, já tentei plantar algumas, porém nem todas as pessoas nascem com o dom da germinação nas mãos. Seria o excesso ou a falta de água?
E os meus filhos? Não, eu não quero, não quero ser responsável por dar a vida a um ser que ao nascer terá os dias contados como uma lata em conserva com prazo de validade vencido nas prateleiras de um grande supermercado, contaminados por um mundo doente do qual faço parte.
Com isso, estaria eu pleno e livre das obrigações desse mundo? Não, eu sinceramente não sei, e com tal ousadia e as mãos sobre o peito ouvindo os Veitequattro Capricci per violino solo de Paganini eu pensei e refleti se teria cumprido todo meu dever aqui na terra?
Eu ainda não sei.
Alguém sentiria minha falta? Parentes, vizinhos, amigos e inimigos, que acho que não os tenho. E o que aconteceria com os meus pertences? A quem seriam doados? Seriam eles achados, jogados ou vasculhados? E os meus livros, meus autores prediletos, meus amigos Proust, Baudelaire, Saint Genet. A quem seriam destinados? A lata de lixo ou a consumação total nas mãos de um novo discípulo a procura de intelecto. Meus cds que de certa forma são minha referencia musical, pois quando nasci fui corrompido por um estilo chamado pop-music. Não sei se isso é bom ou ruim porém escuto o que gosto:  Vivaldi, James Blunt, Dion, Damien Rice, Sanz, Rachmaninoff, Legião de Renato, Guetta, Shakira e Pausini entre outros que prefiro não comentar para não dar mais alarde.
O que vão fazer, com meu violão parado e empoeirado? Alguém vai aprender a tocar algo que eu não consegui fazer?
Meu desktop e meu notbook. Eu que sou materialista extremo, temo só de pensar e não poder dizer.
Com tudo minha grande família, os parentes em casa, duas a três vezes por semana. Aquela agitação e vozes altas dos tios, tias, primos, cunhados e vovó reclamando de suas dores nas pernas. E o que eles achavam de mim?
Bem, alguns me achavam inteligente. Às vezes desconfio que me falta essa massa cinzenta da qual Poirot usava para desvendar seus incríveis casos policiais. Outros me achavam ignorante. Eu poderia até ser, porém estava sempre tentando evoluir, na busca incessante de conhecimento. Alguns me achavam educado, outros me achavam um grosso. Prefiro rude, tinha vezes que me faltava raciocínio e então dizia o que vinha à mente, não filtrava. Alguns me achavam feio, outros me achavam belo. Eu gosto do meu rosto, dos meus olhos, nada mais, ainda. E o que teria contribuído para que eu me tornasse assim? Algo que reflete sobre tudo, porem fica preso em seu tempo. Em parte a cultura ao redor contribuiu um pouco, o restante eu fui pesquisar, saber a origem.
E se agora eu morresse? E porque morrer deitado e dormindo se existe tantas outras formas de morrer que eu acho mais interessante? O que aconteceria? Realmente não sei, são somente pensamentos que aos poucos vêem em mente. Será que fui escolhido? Eu acho que fui sempre o quis ser, eu mesmo, sentimentos eclodindo dentro de mim.
Estou deitado na cama, estendido como num caixão, quase sem pulso, coração parando. Meu ventre não oscila respiração. Ai meu deus do céu, a barba por fazer, ódio, porém dizem que fico bem de barba. Será?
Alguns me achavam polêmico, outros me achavam controverso. Alguns me achavam tímido, outros me achavam corajoso. Alguns me achavam enclausurado, outros me achavam devasso. Alguns me achavam orgulho, outros me achavam desgosto. Alguns me achavam grande, outros me achavam baixo. Alguns me achavam gordo, outros me achavam magro. Eu não fui pra um lugar distante, eu morri, mas continuo aqui, em meus pensamentos.
E quem são as pessoas que irão choram no meu enterro? Gostaria de saber, pois eu nunca chorei em enterro algum, será que chorarei no meu? Não sei. Alguns meses atrás eu já sabia que eu iria morrer, sentia um mal agouro, só não sabia o dia e a hora, porem essas coisas não tem hora marcada. Basta estar vivo.
Alguns me achavam soberbo, outros me achavam humilde. Alguns me achavam forte outros me achavam fraco. Alguns me achavam superior, outros me achavam inferior. Por quê? Realmente não sei, são puro pensamentos aqui dentro.
Alguns me achavam existente e já outros me achavam ausente. Alguns me achavam homo, outros me achavam hetero. Sei que agora existi. Não sei se contribui em beneficio de alguma pessoa. Sei só que existi, num mundo errado, usado, maltratado e doente.
Assim como eu, doente por pensar em coisas mundanas, fulanas, ciclanas, tudo boato alheio.
Ah, e quem não errou? Levante a um dedo, jure por Deus, jure pela mãe, pelo pai, pelo irmão. Cortem as mãos, pois um dedo é sempre pouco, pelos excessos, pelos erros cometidos.
E alguns me achavam carinhoso e outros me achavam tosco. Alguns me achavam normal e outros me achavam louco. Eu não os culpo, culpo a mim mesmo, por ser assim, pensante constante, aos poucos. Isso parece ser louco? Pois que seja, eu serei sincero.
Assim como tantos outros cretinos que existe no mundo que não dão valor ao seu semelhante, eu acho ser um, por não me interessar pelo meu país e gostar tanto de outros povos e outras culturas. Eu sempre gostei de outras línguas. Então porque diabos eu não coloquei uma mochila nas costas e sai pelo mundo, conhecendo lugares que eu sempre quis conhecer? América do norte e Europa. Aprendendo o inglês em New York City, o espanhol em Madrid, o francês na famosa Paris? Pura insegurança pode-se dizer.
Acreditando ser uma pessoa vazia, que não crê em nada e muitas vezes  nem em si mesmo.
Alguns me achavam implicante, outros me achavam chato. Alguns me achavam preguiçoso, outros me achavam... Poderia eu ter sido tudo ao mesmo tempo? Talvez sim, talvez não. Não sei dizer. Sei que sou eu, o resto é intriga da oposição.
E alguns não achavam nada disso que eu falei, simplesmente achavam que eu era eu e pronto.
Então acordei, e a musica continuava a tocar. Havia morrido em pensamentos e as horas passaram e eu nem senti, entre pizzicatos, martellatos e stacattos.
Talvez fui possuído por um demônio chamado Paganini e não sei dizer porque? Como tudo em minha vida é sem explicação. São somente dúvidas, dúvidas, dúvidas e medo. Algo ambíguo, cheio de sentimentos e ao mesmo tempo vazio.

Um comentário:

  1. "Poderia eu ter sido tudo ao mesmo tempo? Talvez sim, talvez não. Não sei dizer. Sei que sou eu, o resto é intriga da oposição"... Muito bom!
    Quem é você? Quem somos nós? Eu não sei a resposta para essas perguntas, mas para mim, você é um grande amigo, desses sensíveis, que eu adoro ter!!
    Fica bem, e deixe para se preocupar com esses assuntos de morte quando tiver 96 anos, pode ser? ;)
    Abração...

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